O marimbondo feliz

O Expresso Capão Bonito
O Marimbondo feliz
“Papai, eu gosto tanto desta casa! ” Diz Mariah, minha filha do meio (tenho três).
“E eu gosto tanto de você!” Respondo na lata.
“Eu quero morar aqui toda minha vida! Uma casinha aconchegante, no meio do mato, com uma linda horta orgânica nos fundos!”
“Ai, minha filha, romântica e sonhadora! Vou te contar uma estorinha, é do “Marimbondo Feliz”:
Quando seu pai era ainda menino, gostava de passear e olhar as coisas do Sítio Nirvana. Via as formiguinhas, as teias de aranha e os ninhos de pássaros com seus ovinhos. Me alegrava ver essa sinfonia da Natureza, todos os animais crescendo e se reproduzindo. Um velho galinheiro ia ser derrubado, pois havia sido carcomido pelos cupins. Afinal fora construido pelo seu bisavô Firmino.
Quando contornei pelo lado que dava para o coqueiral, vi um marimbondinho, muito alegre e bonitinho. Seu corpinho era amarelo e marrom escuro e ele era bem pequenino. Ele estava muito ativo, voava o tempo todo para um barro na beira do riacho e o pegava o barro com as perninhas para construir uma casinha para ele. Ele batia as asinhas de felicidade toda vez que depositava mais uma infima quantidade de barro, dando molde ao que seria talvez sua primeira morada. Eu gosto de ver os bichinhos, e observando-os, imagino o que estão pensando. Ele pensava (eu, na verdade pensava por ele) “Vou fazer uma linda casinha, para chamar minha marimbondinha e casarmos. Vamos ser muito felizes e teremos muitos marimbondinhos!”
Mas logo após aquilo fiquei triste, pois lembrei que a telha e a ripa sob a qual ele depositava todos seus sonhos viria abaixo, com todo o velho galinheiro. Ele estava construindo sua vida, tão curtinha, sobre uma casa condenada! Procurei o meu pai (seu vovô) e procurei evitar aquilo, perguntando se não havia um jeito de manter aquele velho galinheiro pelo menos por um pouco mais de tempo.
Ele respondeu: “Você tem cada uma! Ja contratei o empregado e a casa vai abaixo, Está infestada de cupins e contaminando o lado que está bom! Ora veja!” respondeu, rabugento como sempre.
Eu voltei lá e observei mais o marimbondinho. Ele não parava sequer um minuto, tão incensado que estava pela sua construção. Me despedi dele com um breve aceno de mão e saí de lá, só voltando um dia depois.
Já não havia mais galinheiro, já não havia mais casinha e não via o marimbondinho. Procurei bastante ao redor e acabei encontrando ele sobre a folha de um pé de laranja lima. Ele não estava triste. apenas batia as asinhas como se me dissesse: “Não tem problema, meu amigo! Vou começar agora mesmo outra casinha! Acharei um lugar mais firme!”
Foi quando vi os lindos olhinhos castanhos da minha linda filha molhados de lágrimas! “Puxa ´papai, que estória triste!”
Eu busquei lá no meu arquivo uma solução para aquele problema.
“Filha, eu adoro esta estória, pois ela é a estória de vida de mim mesmo, e de muitos outros “marimbondos” que vivem pelo mundo. Por mais que gostemos de nossas coisas e nossas casas, e sejamos felizes com o que temos, todas estas coisas podem de uma hora para outra deixar de existir. Podemos perder plantações, amigos se vão e casas caem. Mas temos que manter algo muito aceso sempre, que é a felicidade que vive dentro de nós.”
Por isso, aquele marimbondinho foi pra mim um grande mestre de vida. Ele me disse, com sua atitude: “Vamos agarrar com força essa eternidade que existe dentro de nós, pois nada pode roubar a felicidade que nos habita. Se uma casa caiu, farei outra, enquanto o amor existir em meu coração.”
“Vamos ser felizes aqui e agora, com o que vivemos a cada momento!”
E peguei a cabecinha dessa filha tão amada e encostei no meu peito enquanto sentíamos o coração de um e de outro bater.
2015 Doutor Alberto Peribanez Conzalez
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