Nosso suor sagrado

NOSSO SUOR SAGRADO Acabou a G-20, em Cannes. No saldo, um continente em perigo, a Europa. Um país em bancarrota, a Grécia. E a economia do planeta em suspense. Vivi muitos anos da minha vida em um país onde a dívida com o FMI parecia insolúvel. Aqui, nos trópicos, muito suor. Comecei a trabalhar com 18 anos, ainda estudante de medicina. Trabalhava de noite e estudava de dia. Não me lembro de nenhum momento de minha vida (olhe que já tenho muito tempo) no qual estivesse ao bel prazer, vendo os dias passarem. Minha vida é de trabalho, trabalho e trabalho. E até hoje ainda não fiz o que se pode chamar de “pé de meia”. Ainda estamos muito longe das condições que a Europa e os países desenvolvidos oferecem aos seus cidadãos. Já temos a postura de grandes, mas ainda somos subnutridos em termos de previdência.Mas deixando a esfera pessoal, olho em volta e vejo milhões de brasileiros nas ruas, lutando pela vida, levando as notas amassadas de dinheiro para suas comunidades após um dia de labuta, com os dentes mal tratados, sem um sistema de saúde eficiente, sem emprego formal, vivendo na informalidade trabalhista e na falta de opções. Montam barracas, vendem produtos e sobrevivem. Andam e morrem em motos e caminhões. Milhares que são ainda mal remunerados, empregados com carteira, fazendo trabalhos pesados na limpeza urbana, construção, industria e serviços públicos. Subindo ladeiras que às vezes desmoronam com a chuva.

É isso o que vejo no meu país. País que durante dezenas de anos vivia com o prato estendido ao “Primeiro Mundo”. Não foi em vão, é claro que muitos países da Europa contribuíram ao investir no Brasil. Mas a troca era o lucro deles versus o suor do brasileiro. Enquanto isso, na Europa e Primeiro Mundo imperava a “dolce vita”. Até os trabalhos pesados não provocavam calos neles. Estes eram (ainda são) ocupados pelos turcos, argelinos, hindus e – brasileiros! que fazem a limpeza das ruas, enquanto os filhos da terra usufruem a riqueza gerada pelo capital especulativo.

Mas afinal o que é capital especulativo? É dinheiro gerado em cima de dinheiro. Juros sobre juros. Agiotagem internacional, esvaziamento de economias. Eu vi a Argentina quebrar,vi a Russia quebrar, por caprichos do capital especulativo. As grandes escolas mundiais de economia (inclua-se aí Oxford e Harvard) foram formando “tropas de elite” de tecnocratas insensíveis, especistas e racistas, que do alto de seus edifícios na Wall Street, criaram um mundo sem religião, tendo como Deus o mercado. Esse mundo de agrotóxicos, fármacos, celulares sugadores de dinheiro, sistemas bancários vampiros. Enquanto isso, década de 90, meninos e meninas de rua no Rio de Janeiro “viravam anjos” da noite para o dia.

Curiosamente um dos maiores especuladores de todos os tempos chama-se Sórós. Giorgios Sórós. Grego! Ele quebrou a Argentina, volatilizando milhões em dinheiro eletrônico disponível. Como um deus maligno no Olimpo da economia. E agora a maldição dos deuses leva a Grécia ao colapso. Mas Sorós é grego? Não! Esses caras não tem identidade nem país. Não têm família, tem apenas tabelas de ações. Com um teclar de lap top, uma economia se esvazia.

Logo depois criou-se o EURO (Especuladores Unidos, Rapina Onipresente) e as crises deles pareciam ceder. De preferencia sem nenhum suor. Criaram pelos bancos internacionais os enormes juros aplicados aos países pobres, mantendo juros quase zero para seus cidadãos enxutinhos. Quem sua é o africano. É o brasileiro. É o mexicano e o boliviano. Os pobres suam e os ricos jogam xadrez em cúpulas condicionadas, bebendo Campari Soda, enquanto moedas suadas caem em seus cofres: plim, plim, plim…

Por isso endosso a quase irônica afirmação da presidenta: “Se eles (os europeus) não contribuem, porque haveria o Brasil de contribuir? Nosso dinheiro é obtido pelo suor do nosso povo”. Isso não se aplica a todos os brasileiros não! Mas é “outro capítulo”. Pagamos com o suor do nosso povo a dívida externa e o FMI. Estamos crescendo. É hora de investirmos no povo que trabalha. Transformar suor e lágrimas em água limpa, saneamento, previdência e saúde. Eles estendem o prato, vamos colocar nele indulgência e inteligência.

Nossa cultura suada de trópico e trabalho ainda vai mostrar ao mundo uma nova economia, solidária, de ganhos bilaterais, de compartilhamento, de valorização da família, de suor valorizado. Vamos criar uma nova moeda internacional, salgada como o sal. Uma moeda chamada SUOR. Quanto você sua? Será o que você merece ganhar! Um político ganharia salário mínimo e um lixeiro 1.000 suores. Um agro investidor ganharia 100 suores e um agricultor orgânico 2.000. Um burocrata ganharia 300 e um plantonista 3.000.

E eu, prezado leitor, já estaria passeando de barco a vela nas Antilhas!

2015 Doutor Alberto Peribanez Conzalez
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